sábado, maio 31, 2008

Docência nos nossos dias

Atraem-me (sempre me atraíram) os temas de carácter científico, apesar de na matemática não ter sido um bom aluno o que é fundamental, pois as coisas da ciência implicam, de certa forma, o uso dessa disciplina e a sua aplicação prática. É verdade, no entanto, que fui bom discípulo dos professores de física, ciências da Natureza, e outras ligadas às coisas do foro científico. E fui tão bom ou tão mau que – lembro, com certa mágoa – um dia, frequentava eu o equivalente ao actual quinto ano da Ensino Básico, uma “velha” professora me deu uma valente bofetada por ter afirmado que, para além dos oito planetas do Sistema Solar (então ainda eram oito), havia muitos outros espalhados pelo Universo, facto que, cada dia, se confirma e reconfirma.

Quero com isto dizer que o ensino, nesses tempos de má memória, era tão rígido e dogmático (só valia a opinião do mestre e dos compêndios) que impossibilitava o discente de ter ideias e, sequer, de as exprimir. Era, forçosamente, o saber conseguido à custa do “empinanço” e não do raciocínio resultante da análise dos dados obtidos pela leitura, pela constatação de factos e acontecimentos vistos e vividos no quotidiano ou por qualquer outra forma de investigação.

Então, acontecia que muitos desses professores (também eles feitos à força de muito “marrar” e muito “empinar” matérias sob o jugo férreo da ditadura que também queria subjugar as inteligências, não estavam preparados para confrontarem mentes atrevidas, em seus objectivos e modos de pensar.

Em face disto, a questão que surge torna-se pertinente e cheia de pontos de reflexão: E hoje, século XXI, será que os docentes deste país estão aptos e capazes de enfrentar e preparar gerações mentalmente mais abertas e, assim, bem mais reivindicativas? Não será necessário produzir um novo tipo de professores? Não será ainda o Ensino, em si, que tem de mudar? Neste último caso, de que forma, com quem e com que meios?

Quem for de direito que responda, pois eu não sou ninguém nem no Ser, nem no Estar!...

quinta-feira, maio 29, 2008

Conhecimento e Culura

Quando era menino, minha avó materna – senhora aristocrata no saber e na vivência –, ensinou-me que «há diferença entre o conhecimento e a cultura. Podemos ter muitos conhecimentos e, no entanto, não sermos cultos, mas o inverso também é viável.»

No primeiro caso, usemos por exemplo, um economista que se fartou de “queimar as pestanas” para obter o “canudo”. Ele sabe muito de estratégias financeiras e de gestão empresarial, mas, infelizmente (ele há disso), é insensível à beleza terna da pintura de Boticelli ou à força da escultura de Rodin. O que quer dizer, evidentemente, que esse indivíduo, em matéria de cultura, não passa de um coxo.

Por seu turno, já um analfabeto, como minha avó paterna, pode sentir e viver com imenso gosto a expressão (estilizada pelo modernismo) de uma tela de Miro e não saber como se escreve a palavra amor, porque não aprendeu a juntar e a desenhar as letras, mas ela – afirmo com muito carinho, admiração e saudade – sabia, com emoção, o sentido dessas quatro letras. Era, à sua maneira, uma senhora sensível e culta, muito culta.

Vem isto a propósito de um concurso da R.T.P. em que se confunde cultura e conhecimento com (algumas vezes) bisbilhotice balofa de tertúlia cor-de-rosa. Exemplo: a actriz Fulana é filha do violoncelista X e da pintora …? E vêm as quatro possíveis respostas que não interessam nem sequer ao Menino Jesus de tão fofoqueiras que elas são.

E por que não?: O Infante D. Fernando (cognominado de Infante Santo) era filho de D. João I e de... A – Maria Brites; B – Deuladeu Martins; C – Filipa de Vilhena; D – Filipa de Lencastre? Sendo que a resposta certa é a D.

A primeira proposta, lamentavelmente, não é conhecimento, nem cultura. Quanto à proposta seguinte é, verdadeiramente, as duas coisas.

Não entendo como há quem concorra a este tipo de testes públicos de saber se, depois, erram em questões (deveras) elementares que qualquer «miúdo de 10 anos» responderia correctamente sem pestanejar…

E queremos nós evoluir e superar as crises se, numa maioria confrangedora, somos tão desconhecedores e incultos!...

terça-feira, maio 27, 2008

Tuberculose presente e preocupante

Lembro-me, muitíssimo bem, de, era eu um menino acabado de chegar de África (1945), onde nasci, haver, no Caramulo – onde não se devia ir por causa do contágio –, mais de meia dúzia de Sanatórios de grande lotação para doentes vítima de tuberculose.

Era um flagelo que – dizia a propaganda do “Estado Novo” – afligia seriamente os governantes da altura. Não sei se era ou não verdade, mas sei, entretanto, que, como forma de obviar o problema, se construíram, por esse Portugal adiante muitos sanatórios da especialidade, os quais, infelizmente, não eram bastantes, pois a doença não parava de aumentar nas estatísticas oficiais e privadas.

E essa endemia só começou a diminuir por volta dos anos 60, graças ao uso de novos fármacos e, de certo modo, à emigração de milhares (se não de milhões) de portugueses para a França, Alemanha, Suiça e não sei mais que outros países, onde, mormente as condições duríssimas de vida, sempre conseguiam ganhar para a “bucha”, o que, por cá, dada a extrema pobreza em que a maioria das pessoas viviam, não era viável.

Os cofres do Banco de Portugal abarrotavam com barras de ouro, mas, desgraçadamente, morria-se de fome e de tuberculose, consequência desse mesmo estado de fome e penúria generalizada.

Recordo esse período vergonhoso da nossa história recente, porque, lamentável e dramaticamente, “para mal dos nossos pecados”, está, de novo, a ser preocupante o ressurgir da tuberculose, pelo elevado números de casos, que vêm atingindo os cidadãos deste país. E aqui a comparação tem todo o cabimento: nesse tempo era o desemprego e a míngua no poder de compra a causa da endemia, hoje são os mesmíssimos factores os responsáveis por tal ressurgimento.

E o comportamento dos responsáveis (talvez governantes, não sei?) não está a ser muito parecido ao desses tristes tempos? Não há desemprego? Não há miséria? Não há desespero? Não há, desgraçadamente, necessidade de ir por aí além, em busca de pão e de melhores condições de vida?

As respostas são tão evidentes que nem as devo dar. Quem tiver olhos que veja!...

sábado, maio 24, 2008

Que ninguém se entregue à depressão!

Ás vezes, invade-nos uma apatia enervante e, parece, sem sentido. A qual provoca a ilusão doentia de entrarmos em preguiça e sermos invadidos por um mórbido sentimento de inutilidade. – Não incapacidade de pensamento e raciocínio, que, esses, estão e ficam bem despertos a acusar-nos, implacavelmente, como cilícios aferroando-nos a carne numa tortura mental que (quase) nos aniquila e deprime.

É uma espécie de “virar de costas” ao que nos rodeia, porque nos acabrunha e dói. É – digamos, sem vergonha – querer fugir à realidade deste mundo louco, cruel e oco de valores morais, sociais e humanos, em que ainda vivemos. É o “deixar cair os braços” no meio da luta que, dia a dia, travamos numa irisada e vaga intenção de mudar as coisas e as acções dos homens, que teimam em manter-se cegos e surdos para a salvação dos seus princípios e para a salvaguarda deste pobre e tão maltratado Planeta em que fomos paridos e que, inexoravelmente, teremos de legar aos vindouros que, queiramos ou não, nos hão-de julgar de acordo com o nosso procedimento.

Cobrir a cabeça no meio de cobertores, tentando escapar à luta da sobrevivência, não vale de nada, nem é, de modo algum, solução para o(s) problema(s) que nos afecta(m)! Isso é, pura e simplesmente, cobardia!!!... Há sim, que gritar, que estrebuchar, que fazer um grande ruído para que, quem de direito, nos ouça e faça algo importante pela mudança de tudo, porque tudo precisa de ser mudado!

quarta-feira, maio 21, 2008

Religião é intimismo

O respeito pela crença dos outros leva-me, naturalmente, a ficar calado para não ofender os princípios de quem tem a sua convicção, a qual, algumas vezes, colide com a minha forma de pensar.

Havia – e continua a haver) quando tinha que contactar directamente com pessoas – três coisas que eu nunca perguntava que eram: as tendências religiosas, políticas e sexuais de cada um. Pois considero que essas coisas são do foro particular e, por isso, só ao próprio dizem respeito e ninguém tem nada a meter-se na vida recôndita do seu semelhante. No entanto, sou – como já disse anteriormente – contra tudo o que seja fanatismo/fundamentalismo.

Seguindo essa linha de pensamento (embora respeitando quem mos envia) devo dizer que fico triste (e chocado) quando recebo, por correio normal ou electrónico, mensagens com orações para que as reenvie (em cadeia) para umas tantas pessoas (o que nunca faço), sob a promessa/garantia de que se o fizer terei acesso a umas tantas graças divinas, mas se proceder inversamente (afirmam tais mensagens) serei vítima de umas tantas desgraças.

Sou contra – repito – porque a Fé não é nada disso, nem tem nada a ver com isso. A Fé é (deve ser) muito privada, muito nossa, pois deve ser fruto da nossa inteligência e, também, do nosso coração, onde, em concomitância, gera emoções e sentimentos individuais (quase sempre invisíveis) e intransmissíveis.

Desse modo, essas mensagens perdem todo o mérito por se tornarem fogo de artifício em noite de romaria. Assim sendo, tais manifestações (ditas) de religião (contacto com a Transcendência Superior que é tudo e está em todos) podem ser aquilo que quiserem, mas Fé é que, efectivamente, não são.

Haja recato e seriedade no que concerne à puridade de cada pessoa! As manifestações Divinas são resultado da oração (mesmo colectiva) de uma Fé, recatadamente, discreta e não de barulhentos e exibicionistas altifalantes ou de coloridas flâmulas pendentes de altos mastros.

terça-feira, maio 20, 2008

Ainda fanatismo/fundamentalismo

Dizia eu, na semana passada, que o fanatismo/fundamentalismo, não era coisa boa, pois é, de certa forma, uma atitude que revela enorme falta de senso já que, na maioria dos casos, se traduz na incapacidade de pensamento, assentando em ideias feitas que mais não são do que dogmas fabricados por mentes que pretendem, simplesmente, impor os seus princípios sem qualquer tipo de estudo e/ou discussão.

A esse propósito ocorreu-me o puritanismo de certos indivíduos (bastantes, até com elevados conhecimentos académicos) que se opõem à transgenização de alguns produtos, dizendo que daí podem resultar malefícios para a humanidade.

Concordo, como ecologista que julgo ser, que, de facto, algumas dessas manipulações genéticas poderão ser perniciosas, mas não corroboro que todas sejam um malefício para a Natureza e para o Homem.

A transgenia existe desde sempre. Umas vezes feita por intervenção do ser humano, outras por efeito de elementos da própria Terra. Não queiramos ser “mais papistas” que o Papa”!

Se analisarmos, atenta e desapaixonadamente, verificamos que nos deliciamos com muitos produtos transgénicos sem sequer nos darmos conta de que o são e sem nos afligirmos com o preconceito de que podem ser maléficos para a nossa saúde, porque, na realidade, não são.

Vejamos, por exemplo, o caso das célebres e saborosíssimas maças de “Bravo de Esmolfe”; as “Nectarinas”; as “Clementinas”; e tantos, tantos outros produtos que, por acção do vento, dos insectos e da inteligência do homem cruzaram géneses dando azo a uma nova estrutura genética, E isto aplica-se ao vinho que, por causa da epidemia de filoxera, obrigou os vinicultores a procederem a enxertos, tornando essas videiras, graças à nova textura genética, mais resistentes. O mesmo se pode afirmar – lembro-me muito bem – de meu avô materno que, para ter cerejas em Setembro, enxertava garfos de cerejeira em vergônteas de carvalho. E que bem sabiam aquelas cerejas rijinhas e fora de época!...

Sejamos, por tudo isto, ecologistas, sim! Mas fanáticos e fundamentalistas nunca!...

sábado, maio 17, 2008

Contraste

É bem bom amar o amor

E é mau desejar a dor.

É bem bom ser conformista

E é mui mau ser masoquista.

O primeiro quer a paz,

O segundo quer a guerra.

Um o pouco o satisfaz,

O outro corre, pincha e berra.

Contradição neste Mundo

È coisa que impera e dói,

Porque deixa tudo imundo

E nada, nada constrói.

Não sabemos que fazer

Nem como estar nesta vida.

O melhor é… só viver,

P’ra não perder a corrida.

sexta-feira, maio 16, 2008

Os Jovens precisam de mudanças

Se a vida muda a todo o momento – como, aliás, tenho vindo a dizer com certa frequência – por que não hão-de os políticos e as políticas mudar suas atitudes e técnicas de gerência das sociedades que representam (ou deviam representar)?

Talvez, esteja a ser um tanto ignorante ao afirmar que não concordo – de modo nenhum – com o Presidente da República quando diz que os jovens, na sua maioria, não demonstram interesse pela política. E não concordo porque o que se observa não é o desinteresse dos jovens, mas, ao contrário, o que se vê é o apego dos mais velhos (políticos ultrapassados no tempo) aos privilégios alcançados e, por isso, já sem ideias e, o que é bem pior, sem ideais novos para, de forma sublime, alterarem o rumo de catástrofe social para onde, lamentável e visivelmente, caminhamos dia após dia.

A Juventude – è claro e está claro – tem interesse pela actividade política da comunidade em que se insere, mas, é mais que evidente, não pode, nem deve pactuar com o modo “economicismo” desenfreado com que os políticos gerem, actualmente, a “res pública”, colocando o lucro acima dos verdadeiros interesses e necessidades dos cidadãos, atirando-os, irremediavelmente, para o desemprego; para a precariedade no trabalho; para a insegurança no ensino, na saúde, na justiça, nas ruas, levando, com isso, ao empobrecimento económico do indivíduo e criando a bipolarização das classes: os pobres e os muito ricos.

Não! Não é nada disso que os jovens querem e precisam!... O que os move é uma sociedade equitativa em direitos e deveres. Os jovens querem e precisam de Ser e Estar e jamais a desigualdade em que já se vive e que se agravará se não mudarem as políticas e os seus mentores, retrógrados e camonianamente “velhos do Restelo”.

Assim o que é preciso e urgente – muito urgente mesmo – é valorizar a Juventude e possibilitar-lhe novas sendas e novos lugares de cidadania total.

quinta-feira, maio 15, 2008

Voto de Eternidade

(Sonetilho no aniversário de minha esposa)

Fazer anos é viver,

É prosseguir no caminho,

É construir um querer,

É em todos ver carinho.

O tempo, sem dó, escoa

Na ampulheta desta vida

Umas vezes dolorida

Outras – oh, Deus! – muito boa.

Envelhecemos sozinhos,

Mas lançamos as sementes,

Que nos deixam bem contentes

Ávidos de mil carinhos,

Esperando a f’licidade

Duma santa Eternidade!...

!5-05-2008

quarta-feira, maio 14, 2008

Fanatismo (fundamentalismo) pernicioso

O fanatismo – costumo eu dizer – é a bomba que espoleta a intolerância e, em consequência, todos os indesejáveis estados de ódio e violência que desmoronam instituições, famílias e nações, causando, nas vítimas, angústia e dor sem medida.

O(s) fanático(s) vive(m) de mente, olhos e coração fechados e, por isso, incapaz(es) de qualquer acto de bondade e amor.

Ser fanático (ou fundamentalista, como soa dizer-se nos nossos dias) é todo aquele que, por acreditar incondicionalmente numa qualquer teoria, fica impossibilitado de aceitar a diversidade de pensamento (religioso, político ou simplesmente moral) do seu semelhante. O fanático é um criador (e também cultor) de dogmas. E isto torna-o intransigente, duro nas suas convicções, as quais quer impor, por todos os meios, aos outros, nem que, para tal, haja que recorrer a atitudes de extrema violência. Porque o fanático julga-se, obviamente, dono e senhor da verdade e, por isso, não admite mudar suas ideias (ou seus ideais) e deixa de ser humano, transforma-se num “monstro” insensível ao infortúnio dos que o rodeiam.

Ponderando isto, ocorre-me, com toda a propriedade, lembrar os 48 anos de ditadura militar (digo: salazarista) vividos pelos portugueses no século passado e; por comparação (triste e lamentável comparação), agora com o que está a passar-se na longínqua Birmânia, em que um grupo de fanáticos ditadores castrenses se mostram (autênticos monstros) insensíveis ao imenso drama de um povo a viver no corpo e na alma um sofrimento que nos impressiona e nos revolta.

Por quê, ó Deus? Por que há homens assim?...

segunda-feira, maio 12, 2008

A Juventude e o nosso tempo

O problema actual dos jovens, ao que me apercebo, e que os leva a não casarem cedo, como há uns anos, é, para além da inexistência ou a precariedade de emprego, a questão (crucial) da habitação que, quer para aluguer, quer para compra, está pelos “olhos da cara”, tendo em conta não só o preço dos imóveis como ainda os juros e a dificuldade na obtenção dos empréstimos.

Bem sei que sempre houve especulação, tanto no lado dos empreiteiros, como da banca. Mas, parece-me, que, neste momento, as coisas estão a tomar proporções de verdadeira catástrofe social.

Daí que haja tanta juventude ainda a viver em casa e à custa dos pais, na angustiada busca de um rumo, num tempo cruel em que todas as portas se fecham e em que, de novo, como nos anos da “guerra fria”, os russos e os americanos parecem voltar a não se entenderem e, bem pior, retornam as demonstrações de força na Praça Vermelha o que, não sendo nada (por ora), não deixa de preocupar.

Estes dados sociais que nos preocupam e afligem levam, naturalmente, a que surjam perguntas: Para onde vamos? Como resolver tais problemas? A quem recorrer?

Eu não sei. Mas vou alertando e gritando estas preocupações, pois – como diz o povo – «água mole em pedra dura tanto bate até que fura!...»

sexta-feira, maio 09, 2008

De novo bacoquice arquitectónica

Cá por mim não me preocupam os palácios e palacetes ou solares que, por incúria e incapacidade económica dos seus proprietários já desapareceram – muitos deles não passavam de enormes casarões de estilo indefinido, quando não de muitíssimo mau gosto, o passado acabou, não há que partir o pescoço a olhar para trás –, o que move a minha dor é ver fazer restauros sem prestar atenção ao estilo, à estrutura e aos materiais de origem e ver substituídos, descuidadamente, materiais por outros que são verdadeiras aberrações ou melhor: autênticos atentados ao bom gosto e à realidade histórica desses edifícios.

Isso sim! Isso é que é – diga-se sem rebuço – crime para ser punido com pesada pena ou coima. Mas, infelizmente, não cabem culpas só aos proprietários (de modo geral novos-ricos) e, também, a ignorantes empreiteiros e a arquitectos ávidos de ganhuça ou de quaisquer outros objectivos que desconheço.

No meio disto tudo, resta perguntar: a quem recorrer para se evitarem tais dislates?

quinta-feira, maio 08, 2008

Sobre bacoquice e arquitectura

A minha leitora habitual Pandora escreveu em comentário ao artigo abaixo:
Meu querido amigo, cresci rodeada do belos palacetes e quintas da região de Sintra, e foi com imensa tristesa que ao longo dos anos os vi ser abandonados, degradarem-se, e serem deitados a baixo, por máquinas, para no seu lugar serem construidos "mamarrachos", de prédios altíssimos que albergam várias desenas de pessoas. Eu vivia numa zona nobre do conselho de Sintra, onde os ricos iam passar férias, mas depois tornou-se num dormitório terrivel, onde já nem reconheço as ruas da minha meninice.
Depois mudei-me para cá e apaixonei-me por estas belas casas senhoriais, que existem por todo o lado, e enchem de magia as mentes mais férteis.
É com pena que as vejo, mais uma vez degradarem-se e ficarem á mercê da erosão e do vandalismo. Outras são reconstruídas, com algum gosto, mas a maioria fica apenas com a fachada, para construirem por traz um edificio completamente diferente do original, a ser vendido a preços estapafurdios para o comum dos mortais. Está a acontecer no centro da nossa cidade á vista de todos.
Sim, acho que estamos mesmo na Républica das Bananas, porque por este andar, o nosso património será levado pelo vento e as memórias, essas, acabam quando nós acabarmos um dia.
Lamento a sua perda.

quarta-feira, maio 07, 2008

Bacoquice arquitectónica

Ontem fui ao funeral de minha tia e madrinha, senhora de 90 anos, e, em conversa com um dos meus primos, sobre restauros de velhos solares, como aquele em que vivia a defunta, que era o do Visconde de Ferrocinto, chegamos à conclusão de que para além de custar os olhos da cara, muitas vezes, essas obras eram executadas sem qualquer cuidado, nem critério de preservar a técnica e a vetustez de tal património.

E referiram-se exemplos de edifícios que endinheirados e bacocos “novos-ricos” adquiriram à falida aristocracia deste país, os quais se tornaram, por via disso, autênticos e lamentáveis atentados à Arte, à História e à Tradição cultural da nossa arquitectura.

E as perguntas surgiram-me, naturais e fluentes como um rio: Como evitar tais dislates? A quem cabe fiscalizar e evitar esse estado de coisas? O que andam a pensar e a fazer os Municípios que aprovam esses projectos? Será que estamos na “Republica das Bananas” em que cada qual faz o que muito bem lhe aprouver? A ser assim, onde vai parar o legado patrimonial desta nação tão orgulhosa de seu passado?

De bacoquice estamos todos tão fartos! Então por que não gritamos, como eu estou a fazer, e gritar de todos os modos ao nosso alcance para que não se perca, estupidamente, mais da nossa riqueza arquitectónica?!...

segunda-feira, maio 05, 2008

O Gosto pela Leitura

Pergunta-se quase sempre, quando se entrevista uma personalidade qualquer, quais terão sido os “livros da sua vida”. Como se isso, por si só, fosse (ou seja) bastante para definir o carácter ou a maneira de ser e de estar de uma indivíduo.

Por exemplo, os livros da minha vida foram todos aqueles que, na minha adolescência, eu li, embora tenham sido imensos, desde os de autoria de Júlio Verne, Emílio Salgari, Emílio Zola (deste refiro, naturalmente o Germinal), Victor Hugo (Os Miseráveis) e, esses sim, ficaram de forma bem vincada na minha memória e no meu espírito. Depois, já homem consciente de mim e dos meus objectivos, surgiram “O Principezinho” de Antoine de Saint Ezupérie; “A Mãe” de Perl Burck (Prémio Nobel); “Les Choans” (lido em francês, pois não havia tradução em português) de Balzac; “O Livro de Saint Michel” de Axel Munthe; e entre os porutugueses “Os Esteios” de Soeiro Pereira Gomes; “Avieiros” e “ Fanga” de Alves Redol e muitos outros, cuja lista seria bem extensa.

Mas, o que se deve salientar é que, essas obras – tirando Verne e Salgari – não estão carregadas de aventuras agitadas e rocambolescas, como sucede hoje, com autores que, para deixarem uma qualquer mensagem, o fazem de forma – creio eu –, absolutamente, exagerada, como é o caso de Dan Brown e do português José Rodrigues dos Santos, e de tantos outros. Parece que essa é uma moda para agarrar leitores que, provavelmente, de outra forma, abandonariam a obra ainda antes de terminar o primeiro capítulo.

Para mim, a escrita têm de ter conteúdo, para que a leitura seja um manancial de ponderação, de reflexão e de aprendizagem e não uma cavalgada de histórias pseudo policiais em que as personagens se esfalfam em correrias e artimanhas para escaparem à polícia, às máfias ou sei lá quê.

Se só há gosto pela leitura através de tais estratagemas, então – digo eu –, mal irá a cultura e a literatura por esse mundo além, quer no presente, quer no futuro, pois os valores primordiais do Ser Humano, foram-se na voragem economicista do aqui e agora.

É pena que assim seja!...

sexta-feira, maio 02, 2008

Clareza e franqueza

A bloguista e Amiga Pandora, comentando a minha anterior mensagem, disse: «Está cheio de razão ao dizer que certos blogues não têm nada, a não ser trivialidades, alguns inclusive são bastante maus, mas eles sentem-se felizes assim...
Por outro lado o seu é um dos que mais gosto de visitar, pois escreve de forma clara e franca.
»

A clareza e franqueza a que faz referência mais não são do que o resultado de uma vida de luta, sacrifícios (muitas privações e provações de toda a ordem), dor, angústia e, bastantes vezes, também medo do dia seguinte. Isto, não parece, mas caldeia e tempera o aço da nossa existência. «Não nascer em berço de oiro» – como soa dizer-se – deixa em nós marcas que têm, forçosamente, de mostrar humildade e fortaleza de carácter, no modo sincero como enfrentamos a vida e, de certa forma, como nos expressamos e como analisamos as coisas de momento a momento.

Porém, sempre direi, não bonda ser claro e franco para sermos entendidos e para que a nossa mensagem tenha o efeito desejado, ou seja: alertar as consciências para os reais valores da vida e do mundo. São precisos mais dois ingredientes fundamentais: o conhecimento e a força de expressão. O conhecimento obtêm-se pelo estudo e pela observação de quanto nos rodeia. A força na forma como desenvolvemos os nossos pensamentos, pondo-os em palavras, é fruto – digo eu, por experiência própria – dos “pontapés no rabo” que vamos levando ao longo deste agreste calcorrear pela Terra em busca da sobrevivência e na sua conquista passo-a-passo.

Por isso afirmo, bastas vezes, que é preciso mantermo-nos em permanente aquisição de conhecimentos, estudando e olhando atentamente à nossa volta, sempre prontos a agir com atitudes e/ou lançando o nosso grito de apoio ou, consoante o caso, de revoltada indignação e/ou, ainda, quando tal é a melhor solução, guardar silêncio, para “não se deitarem pérolas aos porcos e não se darem nozes a quem não tem dentes para as roer” – como muito bem diz o povo em seus aforismos.

Não sei se será necessário dizer mais alguma coisa sobre o tema, mas acho bem que não e, por isso, por aqui me fico.