quinta-feira, maio 29, 2008

Conhecimento e Culura

Quando era menino, minha avó materna – senhora aristocrata no saber e na vivência –, ensinou-me que «há diferença entre o conhecimento e a cultura. Podemos ter muitos conhecimentos e, no entanto, não sermos cultos, mas o inverso também é viável.»

No primeiro caso, usemos por exemplo, um economista que se fartou de “queimar as pestanas” para obter o “canudo”. Ele sabe muito de estratégias financeiras e de gestão empresarial, mas, infelizmente (ele há disso), é insensível à beleza terna da pintura de Boticelli ou à força da escultura de Rodin. O que quer dizer, evidentemente, que esse indivíduo, em matéria de cultura, não passa de um coxo.

Por seu turno, já um analfabeto, como minha avó paterna, pode sentir e viver com imenso gosto a expressão (estilizada pelo modernismo) de uma tela de Miro e não saber como se escreve a palavra amor, porque não aprendeu a juntar e a desenhar as letras, mas ela – afirmo com muito carinho, admiração e saudade – sabia, com emoção, o sentido dessas quatro letras. Era, à sua maneira, uma senhora sensível e culta, muito culta.

Vem isto a propósito de um concurso da R.T.P. em que se confunde cultura e conhecimento com (algumas vezes) bisbilhotice balofa de tertúlia cor-de-rosa. Exemplo: a actriz Fulana é filha do violoncelista X e da pintora …? E vêm as quatro possíveis respostas que não interessam nem sequer ao Menino Jesus de tão fofoqueiras que elas são.

E por que não?: O Infante D. Fernando (cognominado de Infante Santo) era filho de D. João I e de... A – Maria Brites; B – Deuladeu Martins; C – Filipa de Vilhena; D – Filipa de Lencastre? Sendo que a resposta certa é a D.

A primeira proposta, lamentavelmente, não é conhecimento, nem cultura. Quanto à proposta seguinte é, verdadeiramente, as duas coisas.

Não entendo como há quem concorra a este tipo de testes públicos de saber se, depois, erram em questões (deveras) elementares que qualquer «miúdo de 10 anos» responderia correctamente sem pestanejar…

E queremos nós evoluir e superar as crises se, numa maioria confrangedora, somos tão desconhecedores e incultos!...

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