Á medida que o homem vai “envelhecendo” – talvez seja mais apropriado dizer: amadurecendo – vai aumentando a sua sabedoria e serenidade, afirma-se com muita frequência. E há mesmo quem diga que isso se deve ao facto de, com a passagem do tempo, as pessoas “assentarem os pés no chão” deixando, de certa forma, de sonhar.
Confesso que tenho muita relutância em aceitar este último pensamento, pois acho que a sabedoria e a serenidade são fruto da concretização (ou não) de muitas coisas que só existem ou existiram porque houve, primeiramente, o sonho e, daí, o desejo de o tornar realidade.
Minha mãe – pessoa muito pragmática e… muito materialista – costumava dizer, referindo-se a mim: «tenham cuidado com ele, porque anda sempre com a cabeça nas nuvens!» Queria com isso dizer que eu era (e sou) um inveterado sonhador, o que, para ela, era um enorme defeito.
Todavia foi graças a esse “defeito”, acertando e errando imensas vezes, que fui aprendendo e evoluindo até chegar ao que sou: um velho com sabedoria e serenidade, muito embora seja, bastas vezes, assaltado por medos de incapacidade para estar e de vir a sentir, na pele e na alma, os efeitos da solidão com todo o seu vasto e pernicioso quadro de malefícios físicos e espirituais.
Mas, apesar disso, continuo a sonhar, pois, enquanto assim for, sei que estou vivo e que sou eu.