Acocorado no chão, com uma colher de rebocador de paredes, numa das mãos, escarafunchava o solo endurecido pelo séculos e, com uma trincha de pintor, na outra, limpava, cuidadosamente, a terra agarrada a uma fíbula de bronze, provavelmente, arrancada a um soldado romano, numa das muitas emboscadas que a guerrilha lusitana promovia ao invasor.
Foi assim que o conheci. Estava-se nos finais dos anos setenta do século passado. Procedia-se às escavações do Castro da Cárcoda, ali para as bandas de Carvalhais. Os trabalhos orientados pelo arqueólogo Monsenhor Dr. Celso Tavares, coadjuvado pelo Dr. Inês Vaz e por ele, Dr. Alberto Correia, decorriam, com a ajuda de estudantes voluntários, proveitosamente para a descoberta do passado da nossa região.
Bem longe estávamos, nesse dia, de pensar que, a partir daí, havíamos de consolidar uma amizade que perdura, há mais de trinta anos. Três décadas em que a cultura se foi escoando, como areia por entre os nossos dedos, mas deixando no chão um montículo que atestará, de forma perene, a nossa passagem por esta cidade e por este Mundo, muito especialmente o Dr. Alberto Correia cujas obras têm um fôlego tão grande quanto a sua alma de homem bom.
Vem isto a propósito da publicação do seu livro “As Arcas da Memória” em que, no seu estilo poético de contar as lembranças da sua meninice, lega aos vindouros o espólio etnológico do passado (quase presente), o qual está já em vias de acelerada extinção e, por isso, em eminente perigo de perda total.
Dizia eu, ontem, a alguém: Que bom é haver, em Viseu, um Alberto Correia com “As Arcas da Memória” e eu próprio com “As minhas e as estórias deles” (a publicar quando alguma editora o quiser fazer) para que todo um riquíssimo acervo se não perca, pois isso seria uma catástrofe cultural de que a região teria, eterna e amargamente, de se penitenciar, com enorme raiva e ranger de dentes.
sexta-feira, fevereiro 09, 2007
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