sexta-feira, junho 17, 2011

Memórias de uma Cidade

Durante todo o século XIX, princípio do século XX, a Rua Escura e suas imediações (incluindo a Rua Direita e quase toda a urbe antiga), era, em Viseu, o Centro Cívico da cidade. Lá existiam um teatro, algumas associações culturais e recreativas, salas de chá e café, muitas tabernas, bem como várias casas de pasto, onde as pessoas se encontravam para se divertir, comer, beber, conversar e até fazer negócios.

Os tempos mudaram. A Revolução Industrial, ainda que, por cá, muito tardia, a pouco e pouco, acabou com tudo isso. A Rua Escura e as que nela desembocavam, como a Rua das Quintãs, tornaram-se zonas habitacionais de operários e de gente menos favorecida, em que se instalaram, também, uns tantos famosos lupanares da região.

Nos finais dos anos 40 do século XX, altura a que cheguei à cidade, já só era válida essa memória na Rua Direita, Rua Nova (Augusto Hilário), Rua da Cadeia (D. Duarte) e muito pouco mais, pois o resto era já uma urbe a querer acompanhar o comboio do progresso propagandeado e estupidamente executado pelo Estado Novo, sob a batuta implacável e dura de um Salazar mais retrógrado e preconceituoso do que um “velho do Restelo”.

Depois, nos trinta e tal anos subsequentes, foi o evoluir tímido, muito envergonhado e receoso para novos conceitos de vida, de urbanismo, e de arquitectura social que, nalguns casos, aleijaram e desvirtuaram a Cidade que só começou a tomar a forma e o querer de hoje com o retorno à Liberdade, trazida pelo 25 de Abril de 1974.

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