Disse o Dr. Mário Soares, há dias na TV, que «as ditaduras são todas muito hipócritas na sua propaganda,» uma vez que dão uma imagem (de bem-estar e felicidade) que, afinal, não existe. Ao que eu pergunto, levado pelo que vejo e me dói: serão só os regimes ditatoriais a fazê-lo? Não há políticos e governantes de regimes democráticos a usar a mesma técnica?
Não vale a pena responder a estas questões, por demais evidentes que elas são. Se, até na vida privada, existem pessoas que, vivendo em terríveis condições económicas, alardeiam, por palavras e atitudes, uma opulência a que não têm acesso, por que não hão-de os políticos e os governantes pavonear realidades fictícias, como modo de somarem votos em tempo de eleições?
Depois, também se põe a asserção de que «quem mostra sua pobreza ou fragilidades, perde os amigos.» Esta última frase é tão verdadeira que modifica comportamentos. E, então, surge a falsidade ou hipocrisia a que o antigo Presidente da República fez referência. Mas, note-se, não é por maldade que alguém o faz, é, evidentemente, por razões palpáveis de sobrevivência.
Por que a vida é difícil e a exigir grandes sacrifícios, há que, mesmo artificialmente, mostrar um status que, sendo mentira, abre oportunidades para se chegar a outros portos. Vive-se, hoje, muito da aparência e do faz de conta, porque, se assim não for, é-se, implacavelmente, marginalizado em (quase) todas as actividades humanas.
Que mundo este, ó Deus, que mundo!...
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