terça-feira, janeiro 15, 2008

A verdade nas Tradições e no Folclore

No passado sábado, 12 de Janeiro, embora com um atraso relevante quanto à data apropriada, assisti, em Viseu, no auditório “Mirita Casimiro”, a um encontro de Cantadores de Janeiras e Reis e… fiquei triste.

Triste porque sempre considerei que as “Tradições e o Folclore” do Povo são para ser respeitadas, ensinadas e divulgadas com toda a verdade (boa ou má) por mais cruel que ela nos pareça. Esse julgamento não é o mais importante. O que conta é a forma como estava inserida na conjuntura cultural e social da época, cabendo aos grupos e, vincadamente, aos seus dirigentes, desenvolver, nas apresentações, um trabalho pedagógico de esclarecimento do público e jamais de escamoteação dessa verdade – salvo se a ignorância do apresentador não der para mais.

Vem isto a propósito de o apresentador de um dos grupos ao dizer que «quando um grupo de cantadores, não recebia nada, numa casa onde se deslocara para cantar as Boas Festas, se ia embora.»

Ora esta afirmação não corresponde à verdade, já que, quando tal sucedia, era lançado, em coro, um “brado de escárnio” que, variando consoante a região, rezava (mais ou menos) assim:

«Esta casa cheira a unto,

Aqui mora um defunto;

Esta casa cheira a alho,

Aqui mora o rebotalho;

Esta casa ‘stá sebenta,

Aqui há gente avarenta.

E p’ra acabar com as brigas…

Toca a andar sem mais cantigas!»[1]

E lá se iam, de sentidos bem alerta, não viesse por aí uma saraivada de chumbo de algum velho arcabuz

E não digo mais nada!...



[1] - Recolha feita por mim, junto de pessoas idosas em 1961, na região de Viseu.

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