Contava um livro da minha Instrução Primária que um filho carregou seu velho pai e o levou à Serra, para que morresse sem afectar a família.
Depois de o ter pousado e acomodado, o filho entregou um cobertor ao velho para que a sua morte, na solidão, fosse mais aconchegada.
Ao receber a oferta o pai tirou dum bolso uma navalha que toda a vida o acompanhara e cortando o cobertor ao meio, entregou uma das metades ao filho, dizendo:
– «Toma, isto é para quando o teu filho te vier trazer a Serra, se não for tão bom como tu, tenhas um pouco de agasalho ao morreres.»
Nossos pais e nossos sogros tiveram a gloriosa dádiva de morrerem, tranquila e aconchegadamente, no seio da família que os amava.
E nós, os velhos de hoje e de amanhã – muito provavelmente internados num Lar de Idosos –, será que, ao menos, vamos ter metade de um cobertor que nos dê um pouco de conforto moral e agasalho físico?...
Que tempo e que vida estamos a construir e a viver!...
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