«No meu tempo…» – costumava, muitas vezes, meu avô paterno, iniciar as grandes conversas que tinha comigo, quando eu ainda um rapazinho, desajeitado no andar e no fazer das coisas.
Hoje, embora não tenha ainda netos a quem contar, edificantemente, as minhas histórias formativas, sinto ganas de usar, com alguma frequência, essa frase para sublinhar, de certa forma, a mudança do pensamento e das coisas, em Portugal, (felizmente que assim sucedeu) nos últimos quarenta anos. Mas não o faço, primeiro em honra de Trindade Coelho e de meu avô que a usaram; segundo para que me não acusem de saudosista – o que não sou!
A frase serve, naturalmente, para dizer que quem passa por este mundo deixa algo a assinalar a sua, breve ou longa, presença. Há sempre um sinal (bom ou mau) a atestar – qual pegada fossilizada – que estivemos neste atribulado e confuso planeta, onde os homens se digladiam e destroem, uns aos outros, unicamente, com o objectivo de conseguirem possuir um “lugar ao Sol”. Quanto maior for a estadia, mais profunda será a gravação, desse importante momento, no obelisco de Cronos.
Dirão, possivelmente, que os ditadores, por exemplo, só deixam marcas detestáveis. Não é verdade. Eles, graças ao seu despotismo, conseguem aguentar-se tanto tempo no poder que, entre todo o mal, deixam, entretanto, alguma coisa boa, seja ela qual for: uma lei, uma estrada, um edifício, uma instituição, uma praça, um espólio económico, enfim… algo que, só muitíssimo mais tarde, será recordado, embora não festejado, pois esse era, afinal, o seu dever.
Que a pegada de cada um de nós seja limpa e bem definida, para que os nossos vindouros nos recordem, positivamente, como símbolo e exemplo a ser seguido é o voto que deixo para consideração. O resto é pura e, talvez, balofa retórica verbal!...
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