Havia um rei que não queria ser rei. Porque ser rei é uma grande chatice. Não por ter de mandar. Para isso estão lá os ministros. Mas por não poder ser livre. Poder dar um passeio pelos campos sempre que lhe apetecesse ou mergulhar no mar, numa praia qualquer, quando lhe desse na “real gana”. Deixar o palácio e a maçada dos banquetes oficiais e imiscuir-se nas festas de S. João e, no meio do povo, regalar-se com uma sardinha assada a pingar num bom naco de boroa.
Não! Não podia ser livre! Não podia namorar a camponesa vistosa que lhe enchera o olho, numa das suas escapadelas do Paço. Não podia mais ouvir as histórias que uma santa velhinha tinha para lhe contar, como sucedeu um dia em que fugira à vigilância, a que estava sujeito, e se embrenhara pelo bosque, onde a encontrou à porta duma humilde cabana coberta de colmo.
Não podia ser livre e, como toda a gente, atravessar a cidade, sem o séquito oficial a controlar seus passos e seus actos. Não podia cumprimentar e falar com as pessoas com quem se cruzasse nesse trajecto.
Não! O rei não era livre e, por isso, não queria ser rei!
Ele sabia, pelas vezes que fugira à submissa tutela do protocolo real, que a liberdade é o valor maior que os homens devem salvaguardar para si e para os outros.
Tirou a coroa da sua cabeça, pô-la na do irmão e, sem constrangimento, livre como passarinho, riscando o azul do céu, partiu a tomar conta da sua liberdade.
E… desse modo, conseguiu ser feliz e ser, sobretudo, Homem: Rei de si e da Natureza que, maternalmente, o envolveu num abraço terno de muito amor!
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