A amizade – aprendi isso há longos, longos anos – é um bem que se deve preservar e, se possível, melhorar. A preservação da amizade é conseguida com respeito pela liberdade do outro e a melhoria pela solidariedade para com as dores e as aflições do nosso amigo, entregando-lhe, com toda a sinceridade, o nosso afecto.
Vem isto a propósito de ter ouvido, pessoa de nosso relacionamento, dizer que hoje em dia se tinham muito poucos amigos: conhecidos havia multidões, mas quanto a amigos o panorama era bastante escasso, o que me fez lembrar o célebre soneto do escritor Camilo Castelo Branco, quando a catarata lhe tirou, por completo, a visão e que reza assim:
Amigos, cento e dez, ou talvez mais,
Eu já contei. Vaidades que eu sentia:
Supus que sobre a terra não havia
Mais ditoso mortal entre os mortais.
Amigos, cento e dez! Tão serviçais,
Tão zelosos das leis da cortesia,
Que, já farto de os ver, me escapulia
Às suas curvaturas vertebrais.
Um dia adoeci, profundamente,
Ceguei. Dos cento e dez houve um somente
Que não desfez os laços quase rotos.
Que vamos nós, diziam, lá fazer?
Se ele está cego, não nos pode ver…
Que cento e nove impávidos marotos!...
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