sexta-feira, dezembro 19, 2008

Recordação de Natal IV

Com os meus dez anos eu já sabia que não0 era o Menino Jesus que trazia às crianças as prendas em cada Natal, mas fingia que não sabia.
Eu tinha-a visto na montra de uma papelaria da Rua Direita e fiquei apaixonado por ela. Custava vinte escudos - não era cara, porém, nem todas as bolsas teriam capacidade para ela. Mesmo assim, sempre aventei, a minha mãe a hipótese de poder vir a ser a prendo do Menino Jesus. Minha mãe foi-me dizendo que era um pouco cara, nesse ano, para as capacidades Menino das palhinhas do Presépio, pelo que tirei dali o sentido.
Na manhã de 25 de Dezembro, lá fui à chaminé a ver o que haveria para mim no sapatinho.
Ao abrir o embrulho, lã estava ela, muito vermelhinha de aparo amarelinho como ouro e, ao lado, num outro embrulho, um pequeno frasco com tinta azul, para que pudesse enchê-la.
Eu tinha uma "caneta de tinta permanente". Ia ser o rei da Escola. Ia ser tão importante como a Senhora Professora. Os meus colegas iam ter inveja de mim, porque só eu tinha uma caneta daquelas, tão bonita e tão funcional, pois não precisaria de estar constantemente a molhar o aparo no tinteiro da carteira, lá na Escola.
E fui muito feliz, muito feliz com tão pouco!...

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