A Ficção existirá?
Muitas vezes fico a pensar nisto e não chego a uma conclusão peremptória sobre a matéria. Pois, como disse Maria Lúcia Lepecki, na revista “Super Interessante” de Abril de 2001, «Quem junta lembranças, fatalmente ficciona» e acrescentando ainda «não tenho talento, tenho memória», afirmação de Camilo Castelo Branco, para justificar a sua vastíssima produção literária, mais se intui a razão (não preocupação) desta minha natural dúvida.
De facto, nas “estórias” que vou escrevendo – tenho já prontos para o prelo 5 livros: um romance, dois de poesias, um de memórias e um de contos – existem sempre, bem entrelaçadas, descrições (camufladas) de muitos dos meus conhecimentos e das minhas próprias vivências humanas.
Lavoisier dizia que «nada se produz, nada se cria, apenas se transforma», o que (parece-me) é bem verdade e aplica-se também ao caso da criação artístico/literária.
Tudo quanto se faz é fruto de algum conhecimento adquirido pela teoria ou pela prática, porque se não houver, na nossa mente, algo aprendido ou vivido não seremos capazes de realizar seja o que for. Quem não tivesse nada no seu consciente, subconsciente e inconsciente, seria apenas, e só, um mero monte de carne e ossos inerte e amorfo que não viveria.
Quanto mais carregada estiver a nossa memória, mais possibilidade se tem de fazer coisas. E quanto mais qualificadas forem as nossas lembranças melhores serão as nossas realizações.
De tudo isto se infere que qualificar é urgente e imperioso ou não será?
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