A semana passada, um poeta popular da minha cidade encontrou-me na rua e deu-me três folhas de papel A4, onde estavam escritos uns pequenos poemas.
No primeiro falava, em três bonitas quadras, da esperança que põe no embelezamento do “velho” Rio Pavio, no fim das obras que estão a decorrer.
No segundo referia uma tertúlia de pessoas idosas, num café do seu bairro, chamando-lhe o “Cantinho dos sábios”.
No último (quase ingenuamente), referia um facto bem real, quando são ultrapassados os oitenta, a fome de afecto, de com quem partilhar confidências e ideias e… de sexo.
Isto tudo pode parecer sem nexo e vazio de interesse, mas não é nada assim. E, se não, analisemos:
Para quem já usufruiu o rio límpido, com barcos e peixes, e o viu, depois, poluído e fétido, poder tornar a vê-lo airoso e belo é uma dádiva divina. Valeu a pena ter vivido tanto para ver a realização de um sonho julgado inacessível.
Os “velhos”, nas sociedades ocidentais, são o fardo pesado que urge descartar. O seu «saber de experiência feito» não merece qualquer atenção, já que as suas ideias, os seus valores e as suas competências não são úteis nos dias que correm. Que disparate e que loucura de desperdício!...
Quanto ao terceiro ponto, ou seja: a fome de afecto, de partilha e de (tenhamos – como o poeta em referência – coragem de o dizer) sexo, mais não são do que o resultado do que disse no anterior parágrafo. E isso tem nome e é o maior flagelo de muita gente que (ainda) vive: Solidão!
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