O barco navega solitário
No meio de um mar de gente.
A hora é de vazio e sombra
E a galera encalha na praia deserta.
As mulheres, de mini-saia,
Sorriem num convite descarado.
Por momentos, o marujo agita-se,
Mas, depois, vai em frente.
O barco navega solitário
Entre vagas de bruma luminosa.
Mendigos estendem a mão
E lançam imprecações
Aos transeuntes que nada lhes dão.
Um cachorro mija na esquina
E os pobres apedrejam-no.
A ganir o bicho vai embora.
O barco navega solitário
Na escuridão mórbida dos bares.
O álcool inebria o ego,
Mas a alma marcha doente
A inalar o fumo azul dos cigarros.
A esperança – coisa etérea –
De qualquer humano
Desvanece-se na loucura do nada.
O barco navega solitário
No meio da confusão
Que nos assalta e acabrunha
No dia a dia, dum existir
Sem glória, sem ambições,
E sem desejo de ser e de estar.
O barco navega solitário
Rumando, seguro, da Eternidade!...
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