quarta-feira, março 07, 2007

Poema sem nexo

O barco navega solitário

No meio de um mar de gente.

A hora é de vazio e sombra

E a galera encalha na praia deserta.

As mulheres, de mini-saia,

Sorriem num convite descarado.

Por momentos, o marujo agita-se,

Mas, depois, vai em frente.

O barco navega solitário

Entre vagas de bruma luminosa.

Mendigos estendem a mão

E lançam imprecações

Aos transeuntes que nada lhes dão.

Um cachorro mija na esquina

E os pobres apedrejam-no.

A ganir o bicho vai embora.

O barco navega solitário

Na escuridão mórbida dos bares.

O álcool inebria o ego,

Mas a alma marcha doente

A inalar o fumo azul dos cigarros.

A esperança – coisa etérea –

De qualquer humano

Desvanece-se na loucura do nada.

O barco navega solitário

No meio da confusão

Que nos assalta e acabrunha

No dia a dia, dum existir

Sem glória, sem ambições,

E sem desejo de ser e de estar.

O barco navega solitário

Rumando, seguro, da Eternidade!...

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