Dizia-me, há cerca de dois anos, o meu amigo e condiscípulo da Escola Técnica (no meu tempo ainda havia disso) Gualter Sampaio – Deus o tenha em bom lugar – que eu era, sou e sempre fui um pensador.
Surpreendeu-me a asserção, pois, para mim, a palavra só era aplicável a figuras como António Vieira, Alexandre Herculano, Almeida Garret, Vitorino Nemésio, Agostinho da Silva, Florbela Espanca, Natália Correia, Sofia de Melo Brinner ou outros, de igual porte intelectual e, jamais, a mim, mero e mísero poeta, escritor e jornalista, para aqui enterrado, nas graníticas vertentes das serranias da Beira.
Pensava eu (cá está de novo a palavra) que só era tido como pensador, quem tinha altas tiradas literárias. Agora – restolhando nas memórias do meu passado – verifico que, afinal, o Gualter tinha toda a razão, pois desde menino – face à minha deficiência motora – eu tive de usar a massa cinzenta para superar as minhas incapacidades físicas, inventando soluções que me ajudassem a fazer o que, à primeira vista, me estava ou está interdito. Assim sendo, aceito, efectivamente, que sou um pensador, talvez um tanto perdido no mundo do “pronto a usar”, onde “o pensar” se torna quase uma tarefa invulgar. Hoje ser pensador é – permitam-me a caricatura – ser uma “ave rara” na civilização das ideias feitas. Já não é preciso pensar. A Televisão dá-nos tudo já digerido. Os computadores têm programas capazes de nos resolverem os mais intrincados problemas. Pois é! Mas quem põe as imagens e as falas nas televisões? Quem cria os programas informáticos? Quem rastreia essas necessidades dos nossos dias?
E, depois, queixamo-nos do insucesso escolar, lamentamo-nos de que as coisas vão muito mal a nível da matemática, da ciência e do português! Sim, sim! É verdade! E o que se faz para pôr os miúdos a raciocinar, a discernir para que evoluam nos estudos e tomem gosto pelo uso do seu cérebro embrutecido pelos “Morangos com açúcar” e parado pelo dedilhar nos jogos de computador?...
Sem comentários:
Enviar um comentário