Ao comemorar-se, em 13 de Setembro de 1985, o Centenário de Nascimento do Escritor e Beirão que foi Aquilino Ribeiro, levou a Câmara Municipal de Sernancelhe a efeito uma homenagem ao autor de “Terras do Demo”, descerrando, em Carregal, uma lápide comemorativa, numa casa que, diz-se, seria a que teria escutado o primeiro vagido daquele ilustre homem de letras.
Na realidade, a tradição – quase lenda – dá como sendo a casa que tem o pórtico de pedra à entrada do vasto pátio, ali mesmo ao lado da Igreja Paroquial de Carregal, (também conhecida e falada em alguns escritos de Aquilino por Carregal de Tabosa), aquela em que nasceu o escritor, já que foi presbitério do sacerdote que ali habitou e paroquiou e era, como se sabe, seu pai.
Todavia, analisando, de mente fria e discernida, as circunstâncias, não se nos afigura correcta essa versão, embora ela possa constar em alguma documentação sobre o escritor. É que, sendo ele filho de um padre católico a exercer sua actividade na freguesia e a morar naquela localidade, por uma questão de pudor e um certo preconceito, então reinante, não nos parece aceitável que a Senhora sua mãe tivesse completado gestação (quando o ventre tudo denunciava) e, muito menos, parido naquela localidade do Concelho de Sernancelhe.
Isto porque, era prática corrente, os sacerdotes, a quem acontecia engravidarem uma mulher, mandarem-na para outra povoação onde o recato e o sigilo fossem bem guardados, só regressando, mais tarde, depois do evento natalício ter ocorrido, assumindo, então, o Padre a “função” de Padrinho e, só em muito poucos casos, a paternidade. Quando tal acontecia (caso em causa) mesmo assim com cuidados especiais de tudo se fazer (assumir) muito secretamente.
Posta a questão desta forma, uma pergunta se impõe: para onde foi mandada a mãe do autor de “Quando os lobos uivam”?
Tabosa é hoje uma povoação com certa importância no mapa do concelho, economicamente por possuir terras de bom cultivo e turisticamente por lá existirem as ruínas de um Mosteiro Cisterciense de senhoras que ali se instalaram no século XVII, altura da construção daquele convento que tem bem evidentes as marcas do estilo “maneirista”, nessa altura em voga.
É sabido que, na época da gestação e nascimento do escritor, em Tabosa, por via do encerramento compulsivo de muitos mosteiros, só residiam duas freiras, um tanto idosas, que não quiseram abandonar o local e por lá se quedaram até à sua morte, sendo uma delas – ao que consta – excelente parteira.
Estavam criadas, dessa forma, naquele lugar e naquelas circunstâncias, todas as condições para ser mantido, sem custo e com rigor, todo o sigilo que o caso impunha.
Muito depois do nascimento o bebé foi trazido para casa do pai que, também por recato, antes o mandara baptizar na Igreja dos Alhais, dali distante coisa de uma boa hora e meia a passo largo de uma mula possante.
Foi, acreditamo-lo seriamente – segundo nossa investigação histórico/jornalística – em Tabosa, e não em Carregal, que a mãe de Aquilino Ribeiro terminou a gestação e realizou os trabalhos de parto dessa grande figura de homem, de político e de escritor, com quem ainda privei, que é orgulho e vaidade dos beirões e dos portugueses.»
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