Fui, durante 40 anos, jornalista e, segundo diziam, não fui dos maus, até pelo contrário. Hoje, porém, confesso, se tivesse que voltar à profissão, penso que falharia rotundamente. Jamais conseguiria atingir a agressividade necessária para corroer as mentes dos visados jornalísticos, como vejo, actualmente, fazer, com um desprezo total pela privacidade intelectual de cada um e, quantas vezes, com uma teimosia, completamente, fora dos limites da dignidade humana.
Nos dias que correm, vejo, procedimentos deploráveis e demasiado estúpidos, fugindo ao senso comum e ao respeito devido a cada ser humano, por mais indigno ou culpado que ele seja ou tenha sido. Creio que, no presente, não será possível, ao terminar uma carreira, dizer como eu digo: Nunca tive de desmentir uma notícia; desdizer uma crónica ou artigo; ser admoestado pelas chefias de redacção e sofrer qualquer falta desrespeito por parte daqueles que entrevistei ou, somente, interroguei.
O Dr. Mário Soares disse-me um dia, perante todos os meus colegas que o envolviam: «Você é o jornalista mais manhoso dos que me interrogam, mas, nem por isso, deixa de ser o mais honesto e sério na forma como o faz.» Pois é! O que me importava era informar e… “formar” e não chafurdar na lama à volta de um “canudo” universitário.
Que importa se Lula da Silva é um simples operário se é ele que dirige um país de cem milhões de almas? Que interessa se Maldonado Gonelha era um electricista, se ele, afinal, foi o melhor Ministro da Saúde que Portugal teve após 25 de Abril? E Atílio dos Santos Nunes foi um simples operário da construção civil, se é um bom Presidente da Câmara Municipal de Carregal do Sal? Ou que Jerónimo de Sousa foi, apenas; um afinador de máquinas; se tem capacidade para dirigir um partido?...
Sem comentários:
Enviar um comentário