Estava um grupo de garotos, alunos da “velha” Escola Académica, no degrau mais elevado da Estátua de D. António Alves Martins, ali em Santa Cristina, a fazer pose a um colega que, de máquina fotográfica em punho, se aprontava para tirar o retrato, quando, vindo não se sabe de onde, surge um polícia, de bastão de borracha em riste, disposto a descarregar as suas tenções pessoais naqueles pacíficos miúdos.
Perante a ameaça todos deram “às de vila Diogo”, menos eu que, por mor da minha paralisia cerebral, demorei um pouco mais a levantar-me do degrau e, por isso, fui atingido pelo agente vindo a estatelar-me no pedrado que circunda o monumento.
Fui ao hospital fazer tratamento a várias escoriações que a bastonada e a queda me provocaram. No dia seguinte, o polícia agressor acompanhado pelo comandante foram a minha casa pedir mil desculpas. Meu pai, que não era má pessoa, aceitou as desculpas. Mas mesmo assim o agente agressor, como castigo, foi transferido para Lamego que, nesse tempo, tinha má fama, a ponto de ser chamada “a Cidade endireita polícias”.
Vem isto a propósito do acórdão do Supremo Tribunal de Justiça que, sem justiça nenhuma, deu razão a uma mulher que, na Instituição onde trabalhava, aplicava a crianças com deficiência mental castigos corporais e outros.
Será que estamos a evoluir no sentido da humanização e no respeito que é devido a quem nasceu com (ou veio a adquirir) uma qualquer deficiência ou será que estamos a tornar-nos tão materialistas que já nada merece ser respeitado, apoiado defendido e, sobretudo compreendido?...
Entendo que a tarefa de corrigir e educar não é coisa simples e fácil, mas daí ao uso da violência ou, como no caso, de práticas traumatizantes vai uma gigantesca distância. Com mil diabos!...
Por isso, apetece-me, parafraseando o título de um filme que vi há algum tempo, mudar de “Os Deuses devem estar loucos!” para “os juízes devem estar loucos!”
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