domingo, agosto 06, 2006

Os Deuses devem estar loucos

Estava um grupo de garotos, alunos da “velha” Escola Académica, no degrau mais elevado da Estátua de D. António Alves Martins, ali em Santa Cristina, a fazer pose a um colega que, de máquina fotográfica em punho, se aprontava para tirar o retrato, quando, vindo não se sabe de onde, surge um polícia, de bastão de borracha em riste, disposto a descarregar as suas tenções pessoais naqueles pacíficos miúdos.

Perante a ameaça todos deram “às de vila Diogo”, menos eu que, por mor da minha paralisia cerebral, demorei um pouco mais a levantar-me do degrau e, por isso, fui atingido pelo agente vindo a estatelar-me no pedrado que circunda o monumento.

Fui ao hospital fazer tratamento a várias escoriações que a bastonada e a queda me provocaram. No dia seguinte, o polícia agressor acompanhado pelo comandante foram a minha casa pedir mil desculpas. Meu pai, que não era má pessoa, aceitou as desculpas. Mas mesmo assim o agente agressor, como castigo, foi transferido para Lamego que, nesse tempo, tinha má fama, a ponto de ser chamada “a Cidade endireita polícias”.

Vem isto a propósito do acórdão do Supremo Tribunal de Justiça que, sem justiça nenhuma, deu razão a uma mulher que, na Instituição onde trabalhava, aplicava a crianças com deficiência mental castigos corporais e outros.

Será que estamos a evoluir no sentido da humanização e no respeito que é devido a quem nasceu com (ou veio a adquirir) uma qualquer deficiência ou será que estamos a tornar-nos tão materialistas que já nada merece ser respeitado, apoiado defendido e, sobretudo compreendido?...

Entendo que a tarefa de corrigir e educar não é coisa simples e fácil, mas daí ao uso da violência ou, como no caso, de práticas traumatizantes vai uma gigantesca distância. Com mil diabos!...

Por isso, apetece-me, parafraseando o título de um filme que vi há algum tempo, mudar de “Os Deuses devem estar loucos!” para “os juízes devem estar loucos!”

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